1) O que é Espondilite anquilosante (EA)?
Trata-se de uma doença inflamatória autoimune, que causa dores persistentes, principalmente nas articulações da coluna vertebral, incluindo a região sacroilíaca, que liga o final da coluna com os ossos da bacia.
Porém, outras articulações também podem ser acometidas como os quadris, joelhos, tornozelos e pés.
2) A doença afeta mais homens ou mulheres?
Os homens são de 4 a 5 vezes mais acometidos que as mulheres. Em geral, os primeiros sintomas surgem no final da adolescência ou na idade adulta (antes de 45 anos).
3) Quais são os fatores de risco?
Um dos fatores de risco é o histórico familiar de doenças autoimunes, incluindo a EA. Cerca de 54% dos brasileiros diagnosticados com a doença, possuem o marcador genético HLA-B27 (Human Leukocyte Antigen). O complexo HLA ajuda o sistema imunológico a diferenciar as proteínas do próprio corpo, das proteínas produzidas por invasores externos, como vírus e bactérias. Esse marcador genético está presente entre 7% e 10% da população geral.
4) Quais os sintomas?
Os sintomas começam a se manifestar lentamente, através de contínuas dores nas costas e ‘bumbum’ (região das nádegas e no final da coluna lombar). A dor costuma incomodar mais durante a noite.
5) Por que há tanto atraso em seu diagnóstico?
Entre 65% e 80% da população irá desenvolver alguma dor na coluna em alguma etapa de suas vidas. E por isso, muitas vezes, as dores nas costas não são valorizadas pelas pessoas. Ou seja, os pacientes podem estar sofrendo com a Espondilite Anquilosante sem saber, pois confundem com outras doenças ou mascaram as dores com analgésicos e relaxantes musculares, fatores que levam ao atraso do devido diagnóstico. Em média, esse atraso é de 7 anos.
6) Como diferenciar a dor nas costas de causa mecânica da dor causada pela EA?
A doença causa dores persistentes e contínuas, afetando as nádegas e se espalhando pela parte inferior da coluna e atrás das coxas. Em geral, um lado é mais doloroso do que o outro. Além disso, ela causa rigidez matinal e um fator muito importante é que, ao contrário das dores mecânicas, a EA piora durante o repouso e melhora com exercícios físicos.
7) Como é o diagnóstico?
O diagnóstico é feito através da história clínica e dos exames de imagem tradicionais, como a radiografia. Pode ser solicitada a ressonância magnética. A detecção do alelo HLA-B*27, diagnóstico molecular, é feita pela metodologia do PCR em tempo real e somente é indicado quando há dúvida diagnóstica.
8) Como é o tratamento?
Começamos com anti-inflamatórios e alguns poucos casos ainda poderão se beneficiar dos Medicamentos Modificadores do Curso de Doença (MMCD). Nesse grupo, englobamos o metotrexato e a sulfassalazina.
Em seguida, pode ser necessário entrar com a terapia biológica – uma classe de medicamentos altamente específicos, que bloqueiam proteínas envolvidas na inflamação.
Alguns desses são: Adalimumabe, Etanercepte, Infliximabe, Ixekizumabe, Golimumabe, Certolizumabe pegol e Secuquinumabe.
A decisão do tratamento é compartilhada entre o médico e o paciente.
9) O que acontece se não tratar/controlar a doença?
Quando não é tratada devidamente, a Espondilite Anquilosante tende a evoluir para um quadro mais grave, que pode causar deformidades físicas permanentes e dificuldade na movimentação em toda coluna e quadris, além de poder acometer outros órgãos, como olhos, coração, pulmões e/ou rins. Nos olhos, por exemplo, a incidência da manifestação chega em torno de 40% dos casos. Geralmente, os episódios envolvem inflamação ocular, a chamada irite aguda, que causa sensibilidade à luz (fotofobia).
10) Além da parte medicamentosa, quais as demais recomendações no controle da doença?
O tratamento fisioterápico pode ser indicado para a prevenção de deformidades. Opções como Pilates, Hidroterapia e Acupuntura também podem ajudar.
Bom destacar que os exercícios fazem parte do tratamento, quer seja uma leve caminhada, pois como falei acima, a dor melhora com o movimento. Além disso, os exercícios contribuem para nossa saúde geral.
Quanto mais compartilhamos experiências e buscamos conhecer o universo que rege as doenças autoimunes, melhor. Assim, conseguimos mais rapidez no diagnóstico e melhor controle das doenças.
Conte comigo no diagnóstico e tratamento da Espondilite Anquilosante.
Dra. Tatiana K. Müller
Reumatologista